sexta-feira, 23 de outubro de 2009

SUPERAÇÃO
No dicionário da língua portuguesa, a palavra superação significa; efeito de superar ou de se superar. Para os deficientes ou para os portadores de necessidades especiais, como são chamados, essa palavra tem um significado bem maior. Significa; razão de viver. Hoje, muito se fala sobre esse assunto. Falo, por conhecimento de causa. Afinal de contas, tento superar os obstáculos todos os dias. Cada um que venço, mesmo que com a ajuda de terceiros, me sinto um vitorioso. E quando estou na cama com a cabeça no travesseiro, estou ciente de que Deus teve um propósito, quando tive os primeiros sintomas da pólio. De lá para cá, já venci muitos obstáculos e o maior deles foi o da conformação. Quando cito o verbo conformar, estou me referindo a me aceitar desta forma. Jamais em me conformar com as barreiras arquitetônicas imposta pelo homem. Sei que não posso vencer a vontade de Deus, mas tenho certeza que posso vencer a de qualquer homem. E com esse pensamento, vou trilhando meu caminho. Ao invés de caminhar com as pernas, caminho sob rodas. Sempre com a vontade de superação. Tenho certeza de que você também sonha em se “superar”. Quando você diz essa palavra, qual é a primeira referência que surge em sua mente... uma barreira ou uma possibilidade? Para homens sem problemas de locomoção, barreiras arquitetônicas passam despercebidas. Ausência de rampas em edifícios e em calçadas; falta de transportes coletivos adaptados com elevadores para cadeirantes; ou ainda, banheiros com espaços não adaptados não se constituem como obstáculos diários para pessoas ditas normais.
A arquitetura da maioria das construções não é concebida para atender às necessidades das pessoas com deficiência. Essa não-concepção de acessibilidade não só dificulta a locomoção desse segmento da população, mas também propiciam o segregamento e discriminação de deficientes por negar-lhes a possibilidade deles usufruir. Quando me deparo diante de tais dificuldades, faço questão de vencê-las, mesmo que seja com a ajuda de outros. Não desisto fácil. Infelizmente, nem todos os deficientes possuem esse pensamento.
Milhões de brasileiros e brasileiras não saem de casa porque não podem locomover-se sem o auxílio de algum parente ou amigo. Segundo estimativa do Órgão das Nações Unidas (ONU), para os países em estágio de desenvolvimento (neste estudo, o Brasil), 10% da população (cerca de 15 milhões de pessoas) tem algum tipo de deficiência física. Conforme estudos da Organização Latino-Americana de Saúde, o índice de deficiência no Brasil é maior do que o de outros países de terceiro mundo. As causas de deficiência são, de um lado, epidemias, subnutrição, falta de saneamento básico, prevenção e, de outro, problemas gerados pela violência urbana: assaltos com arma branca e arma de fogo, acidentes de trânsito. Com esse alto percentual, pode-se dizer que é inadimissível que nós deficientes, não sejamos notados.

Com o intuito de diminuir os mais variados tipos de dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência, que vão desde preconceito e discriminação por parte da própria família, até barreiras ambientais (arquitetônicas) no contexto social, o governo federal conta com três importantes órgãos, todos sediados em Brasília: no Ministério da Educação, a Coordenação de Educação Especial (COEE); no Ministério da Ação Social, a Coordenação para a integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE); e na Presidência da República, a Secretaria de Desportos.
Mais de trezentos prédios públicos do Distrito Federal não atendem as condições mínimas de acesso para pessoas com deficiência. Nos edifícios privados a situação não é diferente. Não há rampas e banheiros adaptados para esse segmento da população.
De acordo com a Lei Distrital n° 258, de maio de 1992, num prazo de cinco anos, todos os prédios públicos e privados da capital federal deveriam estar adaptados para facilitar a circulação de pessoas com deficiências. Enquanto isso não ocorre, os cerca de trezentos mil deficientes no DF têm de enfrentar diariamente obstáculos para realizar tarefas simples, tais como, atravessar a rua ou entrar em uma agência bancária. Se na capital de nosso país os deficientes são tratados com esse descaso, imagine em outros Estados.
Quanto ao cenário da prática de atividade física e esporte para pessoas com deficiência no DF, o tratamento é diferenciado. Atualmente, há instituições em Brasília que estão contribuindo significativamente para o desenvolvimento esportivo e de lazer desses cidadãos. Dentre elas se destacam:
• Comitê Paraolímpico do Brasil (CPB), criado em 1995. Tem como veículo de comunicação, a Revista Brasil Paraolímpico, cujo objetivo é informar todos os acontecimentos do movimento paraolímpico: conquistas dos atletas, patrocínios, informações do meio sócio-político, dentre outros;
• Programa de Reeducação e Orientação às Pessoas com necessidades Especiais (PROPNE), da Secretaria de Estado de Educação em parceria com a Secretaria de Esporte e Lazer;
• Centro de Treinamento de Educação Física Especial (CETEFE).

Além de contribuírem na inserção de pessoas com deficiência em atividades físicas, de esporte e de lazer, essas instituições, reconhecidamente, têm também um papel relevante na inclusão social desse segmento da população na sociedade.
Embora facilitem não somente a divulgação do esporte, mas também o acesso de homens e mulheres com deficiência às atividades físicas e ao lazer, essas instituições governamentais procuram ainda sensibilizar a população e a sociedade em geral para os obstáculos ambientais e sociais sofridos pelos deficientes em suas idas e vindas diárias.

Existem diversos modos de significar a prática de atividade física e esporte para pessoas com deficiência haja vista que existem diferentes gestos de interpretação na sociedade. O que significa dizer que deficiência, atividade física e esporte são afetados por multifacetados sentidos de acordo com a ordem do discurso em que eles são significados. A prática de atividade física e/ou esportiva por portadores de algum tipo de deficiência, sendo esta visual, auditiva, mental ou física, pode proporcionar dentre todos os benefícios da prática regular de atividade física que são mundialmente conhecidos, a oportunidade de testar seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secundárias à sua deficiência e promover a integração social do indivíduo.
Atravessados e afetados pelos discursos é que homens e mulheres com deficiência constroem seus discursos sobre as principais barreiras ambientais enfrentadas na prática esportiva e no lazer. Suas dificuldades e lutas permanecem ecoando em seus discursos, ainda que ditos em silêncio. Certa vez, li um texto de um autor desconhecido que sintetiza a ligação entre o esporte e o ser humano, seja ele, deficiente ou não.
“Há alguns anos, nas olimpíadas especiais de Seattle, nove participantes, todos com deficiência mental ou física, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos.
Ao sinal, todos partiram, não exatamente em disparada, mas com vontade de dar o melhor de si, terminar a corrida e ganhar.
Todos, com exceção de um garoto, que tropeçou no asfalto, caiu rolando e começou a chorar. Os outros oito ouviram o choro. Diminuíram o passo e olharam para trás. Então eles viraram e voltaram. Todos eles.
Uma das meninas, com Síndrome de Down, ajoelhou-se, deu um beijo no garoto e disse: "- Pronto, agora vai sarar". E todos os nove competidores deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada. O estádio inteiro levantou e os aplausos duraram muitos minutos.
As pessoas que estavam ali, naquele dia, continuam repetindo essa história até hoje. Talvez os atletas fossem deficientes mentais... Mas, com certeza, não eram deficientes da sensibilidade... Por que?
Porque, lá no fundo, todos nós sabemos que o que importa nesta vida mais do que ganhar sozinho é ajudar os outros a vencer, mesmo que isso signifique diminuir o passo e mudar de curso.”
Por fim, gostaria de evocar que todas as pessoas são diferentes. Limites e possibilidades de superação também são diferentes. Não há como homogeneizar o sujeito sem correr o risco de tirar-lhe sua identidade e usurpar-lhe o direito de exercer plenamente sua cidadania.

2 comentários:

Mozart Farias disse...

Parabens meu amigo Alderico voce e um iluminado por DEUS,abrs Mozar Farias

Mozart Farias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.